Aventuras de uma Adelaide de Salto Alto

"Pede direeeeito" berrava o gênio do guarana antarctica na minha cabeca quando o avião aterrissava em Asuncion. Pois é, acabei ficando em são paulo, mas a quase mudança pro Paraguai libertou minha porção verborrágica. Então aí está: aventuras de uma Adelaide de Salto alto em terras paulistanas. Mano.

Sunday, February 27, 2005

genéricos com uma causa

Virou fenômeno.Desde Agosto do ano passado, braços de famosos e moderninhos americanos passaram a ostentar um bracelete amarelo, feito de borracha aonde liam-se as palavras "Live Strong" em baixo relevo.
Trata-se da campanha para obtenção de renda da Lance Armstrong Foundation: desde 1997 fundada para ajudar pessoas com câncer viverem melhor. A campanha recebeu muita atenção da mídia e o acessório virou peça de desejo, chegando a um pico de vendas de 33 milhões de unidades até hoje.
Mas aí começaram a pipocar por aí, um bando de genéricos caridosos. O The one campaign, que vende-os por um dólar, fez braceletes brancos para ajudar no combate a pobreza e fome. Vale dizer que apesar da causa ser linda, a campanha de marketing é lamentável. Traz fotos de crianças africanas abraçadas pelo Brad Pitt, embaixador da causa. No material publicitário ele aparece em foco enquanto uma sombra preta esconde as crianças o máximo possível. Talvez não fossem fotogênicas o bastante? Deve ser a fome, não?
Voltando ao assunto, depois surgiram outros, banalizando um pouco o ítem: braceletes azuis, para ajudar as vítimas do Tsunami, laranjas, para ajudar pessoas com AIDS, rosa contra o Câncer de Mama e os de arco-íris contra o preconceito sexual. Tentando ainda lucrar com o momento, lojas hoje nos EUA vendem braceletes com inscrições "Jesus Me Ama", e "Deus abençoe os Mortos" (não entendi se os mortos em questão são desencarnados em geral ou os excluídos por todos os outros braceletes.)
O problema atualmente é que o número de cores é limitado e de causas nem tanto. Virou uma zona: hoje se vê pessoas na rua e não se consegue entender que causa elas defendem (ou atacam) com seus braceletes. Verde, por exemplo, traz suporte a causas como: medula óssea, depressão, causas ambientais, transplante de órgãos, retardamento mental entre outros. Os braceletes viraram o equivalente fashion ao óleo de côco de Porto Seguro, cujo vendedor garantia que curava desde câncer de pele, unha encravada até impotência sexual.
E não conseguem mais atrair atenção para as causas defendidas, apenas para quem as veste. Virou marketing pessoal. Daqui a pouco vira bairrismo, que nem torcida de futebol:
-Hum, você é um cinza? Eu sou vermelho desde pequenininho!

Friday, February 25, 2005

Pavê de Toni Ramos

Sempre fui uma menina muito da limpinha. Quando era pequena, sempre desci pra brincar no plêi (naquela época playground não fazia parte do meu repertório e eu aportuguesava o plêi no maior charminho, do meio das minhas maria-chiquinhas.) cercada de mucamas que conferiam o grau de impecabilidade do meu uniforme branco. Me chamavam de m´lady .
Pra afrontar minha mãe que queria que além de limpinha eu fosse arrumadinha e recatadinha, hoje gasto milhões (dos outros, é bom esclarecer) pra defender a causa de que "se sujar faz bem". Vale dizer também que Milaidy não é mais sinal de respeito, mas o nome de uma recifense espivitada com quem dei aulas de forró. Mi-lêi-di (com sotaque arretado).
Enfim Mc Fly, De Volta Para o Futuro, mas em nome daquela época, eu me livrei das Maria-Franciscas, mas ainda sou bem limpinha. Em condições propícias de temperatura e pressão tomo dois banhos diários, até mais em noites de me emperiquitar e sair bailando por aí.
Assim, tenho verdadeiro horror de comida com pêlo e bebida com bolor.
Uai, como porque? Porque é nojento e pronto, simples assim.Mas vamos por partes:


a) comidas peludas:
Eu até gosto de pêlo, nos lugares certos. No meu cachorro Brownie. Em maravilhosas peças de veludo. Até em tórax masculino (pouquinho, sai pra lá Tony Ramos). Mas em comida não.
Então porque cargas d´água todo quindim tem que ser estragado com pelinhos de côco na parte de baixo? E por que, sempre que você vai em lugares-de-se-fazer-cerimônia ( a rigor, casa da chefe, casa da tia-avó, casa da família do namorado) eles sempre tem que servir comida peluda? é um tal de pavê prestígio, sorvete de côco caseiro, tapioca doce com leite e pêlos de côco. ralados. écati,...
Nada tenho contra o côco. Aliás, em minha defesa, posso dizer que todo domingo, religiosamente, cultuo um ritual entre amigas de lamentação por ter esquecido o dinheiro da água de côco ao sair para andar no parque. Dinheiro esse que sempre lembramos ao sair do parque: suadas, cansadas e com larica-de-água-de-côco.
Agora, ele bem que podia vir sem os malditos pelinhos. Viva os côcos depilados.


b)bebidas emboloradas:

Estava eu no Paraguai, jantando com paraguaios, quando eles resolvem ser simpáticos e pedem um refrigerante pra mim. Refrigerante local.
Adelaide espantada: esse refrigerante tá embolorado?
Rór -re (tenta bonitamente falar português): embe? ambo?
Adelaide: em-bo-lo-rado, repeté
Rór -re (tenta comicamente falar português): em-ba-lô-rado?
Adelaide: quase. serve. respondeee.
Rór -re (perdido) : hein?
Adelaide (já sem paciência): com bolor. pelinhos (olha eles de novo no meio da minha comida) verdes. al funghi. hongoooos. urgh.....
Rór -re (continua tentando): náum, é as pôulpas de a fruta, entéinde?
Adelaide (desconfiada): Polpa paraguaia essa porque estragou, né?


Viu? melhor jantar sem pêlo. E tenho dito.

Wednesday, February 23, 2005

Calypso

E, uma vez em São Paulo, encontrei este fim de semana, numa festa, a última bolacha do pacote.
Na verdade, creio que ele se auto-intitularia "a última bolacha Bono de chocolate do pacote". Porque, convenhamos, Bono de chocolate é bem melhor que bolacha de leite que é sem-gracinha e beeem melhor do que bolacha de côco, que tem pelinhos de côco (écati)!
Alguém precisa explicar para o Bono de plantão que a última bolacha do pacote já está velha e mole, pois os brasileiros em geral não sabem vedar bem seus pacotes enquanto comem as outras bolachas. Além disso só está ali, pois todas as outras bolachas foram comidas e as pessoas ficaram evitando a última: ou porque já estavam satisfeitas ou por superstição mesmo. Ser a última bolacha não é tão bom assim, mas acho que ele não sabe. Eu já cansei e desisti de explicar.
Hoje em dia, sou muito mais meu Calypso Branco lindo. Todo o pacote.

Banida da terra dos anões

Sim, sou o único caso de extradição já conhecido do Paraguai.
O fato é que me mandaram de volta para esperar em casa pelo meu visto que não saiu.
E quando fui perguntar às autoridades competentes o porque da demora ouvi uma resposta no mínimo sincera:
- Como ninguém nunca pede visto para cá, estamos aprendendo com seu caso os procedimentos corretos. Ainda não estamos seguros do que fazer para permitir sua entrada no país.
É duro ser inovadora...Aguardem os procedimentos duvidosos que me fizeram passar para conseguir o visto em notícias futuras.
Ainda resta a pergunta: será que uma vez por lá definitivamente, vai ser fácil voltar?

Saturday, February 19, 2005

De volta para o futuro (alheio)

Vida tem trilha sonora. E não adianta, sempre que a gente está triste, acaba cantando Sade, Billie Holiday ou mesmo Ana Carolina, se sentindo confortada por que alguém nos entendeu e também sabe o que é sofrer. Por outro lado nada melhor do que cantarolar "don´t worry, be happy" na cabeça, quando o fim de semana com o namorado foi ótimo e você está recebendo um esporro caprichado da chefe na segunda-feira.

Tem música pra fim (e começo) de namoro,músicas inspiradoras pré-balada, música pra noites de saudade e pra noites de matar saudade.

Uma das melhores coisas, no entanto, é lembrar da trilha sonora da adolescência. Quem não tem aquelas músicas que nos fazem lembrar das tardes de matinê (as minhas eram no Resumo da ópera) quando ainda não se tinha idade (ou identidade falsa) para entrar em uma danceteria a noite? Ou das músicas do Legião que nos levam direto para noites de verão na praia, fogueira e violão? E tem também as músicas mais tocadas nos recreios musicais, quando se cortava o som (em troca de vaias enfurecidas) para que voltássemos pra aula. Minhas memórias de adolescência estão cheias de A-Ha, Erasure, Guns N´ Roses (acompanhei todas as fases: quando o Axl tinha voz, depois quando ele não tinha mais, depois quando ele usava shorts brancos e a voz dele era tema secundário) e (vergonhosamente preciso dizer) Milly Vanilly.Lembrar dessas coisas rendem noites inteiras de risadas com os amigos, em um barzinho qualquer, tomando cerveja.

Mas ontem eu saí pela noite de Asunción e fui, rodeada dos meus mais novos amigos paraguaios, para uma balada paraguaia: a Coyote. E era noite retrô.

Entrei no lugar: grande, bem decorado, ala vip, open bar, gente bonita.

A cada virada do DJ, que emendava um clássico no outro, a pista toda vibrava, dançava e berrava **TECLA SAP** "ooolha essa! lembra disso! nooooossa!" **TECLA SAP OFF** e eu ali, impassível. Peixe fora d´água, não reconhecia uma só música. Passei incólume aos sets "clássicos do vallenato" e "as melhores Bachatas dos anos 80 e 90". Começou e terminou os "Top Cumbia Hits e nada. Pra ser ainda mais sincera, mal distinguia um ritmo do outro.

De repente tocaram 30 segundos de Paralamas: "Uma Brasileira" e lá fui eu berrando feliz com todo mundo(sim, eles também faziam coro): "One more ta-a-aime, one more ta-a-aime, one more ta-a-a-a-aaime". Nunca me senti tão pós-adolescente e tão brasileira: eu e os paraguaios.

Thursday, February 17, 2005

bota água

Hoje estava andando pelo centro de Asuncion onde o mercado a granel, contrabandeado e falsificado come solto.
De repente havia um senhor já velhinho guardando uma série de latoes de lixo aonde se liam precos. Alguns Guaranies (moeda local) por cada 110g.
Passei, dando algumas olhadelas de canto de olho quando um nome me saltou aos olhos "Poroto Carioquinha". Me aproximei (cautelosamente) e fui ver o que era: se tratava nada mais (ou menos) do que o nosso tao brasileiro feijaozinho que, segundo o senhor fez questao de dizer, ainda conservava seu sabor original (acho que ele quis completar, mesmo tendo participado de duas fugas nas costas de uma "mula" na Ponte da Amizade).
Fosse como fosse, nao gostaria muito de ouvir o nosso Chico, ou mesmo a Simone em versao posterior cantando: "bota água no poroto eu to voltando,..."
Perde toda a poesia, nao?

Nao é a Mamae

Eu nunca me importei ao receber aqueles e-mails que atestam o nosso nível de senilidade a partir da nossa habilidade para reconhecer alguns ícones dos anos 80, como Dip-Lick (eu a-do-ra-va o do pozinho de uva), Acquaplay, Pogo-Bol e por aí vai.
Mas me senti realmente velha ao descobrir um duro fato da vida: o Ken envelheceu. E nao é só isso: ele envelheceu, casou-se com a Barbie, tiveram filhos, um cachorro e um álbum de família. Dizem as más línguas que ele tem uma amante, mas essa fica em uma caixa-apartamento novinho em separado, que ele mesmo mobiliou e que, com medo dos altos valores da sociedade, fica no fundo da gondola, junto com a Barbie lésbica e a Barbie-revolucionária (lá por opcao, já que se envergonha deste mundo capitalista)
Se voce já olhou por debaixo do vestido da Barbie e sabe que a boneca politicamente correta e membro ativo do partido conservador nao tinha nada ali, no seu plastico lisinho, pode estar perguntando como essa explosao demografica ocorreu, mas o pior está por vir, além da família, ainda se podia escolher o destino da Barbie.
Os Kens eram todos pais de famílias grisalhos, e sinceramente, meio acabados: tinham a cara e o olhar vesgo que o Richard Gere fazia toda vez que tentava se passar por vulnerável em um filme água-com-acucar qualquer(sim, eu o-di-ei "danca comigo", mesmo gostando de danca)
As Barbies estavam divididas em duas secoes: aquela que decidiu ser uma mulher de carreira (tinha neuróticas administradoras, que vinham com fax e celular - faltaram as olheiras - médicas, de jaleco branco, e atrizes, que ja vinham com silicone, ainda mais peitudas do que a Barbie original,...). Olhando mais a fundo na gondola, atrás da Barbie-Winnits vinham as maes de família, com 03 filhos (um casal e um bebe) todos vestidos iguais; te juro, era passar pela gondola e irracionalmente vinha uma vontade de comecar a cantar a trilha sonora da Novica Rebelde.
Para a crianca que é alvo de sacanagens na escola: nerd, baixinha, cabelo ruim ou por qualquer outra razao, tinha também a Barbie transformista, que vinha munida de uma identidade secreta: estudante de dia, vinha paramentada com seus óculos e jaleco e a noite escapava para uma vida mais glamurosa. Por debaixo do jaleco tinha uma mini saia e blusa com glitter. Dentro da pasta de estudante havia um mini microfone e a boneca estava pronta para ir arriscar a voz (muito provavelmente num Karaoke de quinta, talvez acompanhada dos Barbie Von Trapp e da amante renegada do Ken-Gere).
Nao deixo de sentir que era mais interessante brincar como a gente fazia, inventando uma história nova para as nossas bonecas a cada dia, camaleoas de plástico a nossa mercë.
Se for para ser assim ainda prefiro a Noiva do Chucky, que pelo menos tem coragem de sair na rua de sombra azul e roupa de couro, em claro sinal de protesto.

Monday, February 14, 2005

Ciruela o que?

Eu confesso que nao sei os truques de tortura de donas de casa em feira, passados de geracao a gercao como segredos de familia, tao crueis e frios quanto a Inquisicao Espanhola.
Um chacoalhao no maracuja pra ver algo se solta la dentro, no intimo da fruta, lhe conferindo maturidade (tecnica perfeccionada com os psicologos de filmes de suspense americanos), um apertao nos abacaxis lhes para lhes conferir a docura (ou aliviar o stress que passaram - as donas de casa, nao os abacaxis - ao procurar uma vaga no supermercado).
Mas o que fazer quando nao apenas nao se sabe escolher as frutas, mas nem se faz ideia o que elas sao?
-Mae,... (nem me deu atencao)
-Manheeeee
-que eh Tatiana?
- o que eh uma Ciruela Rola?
-o queeee?
- tá escrito aqui! ci-ru-e-la ... rola!
-Larga isso menina! Vai pegar leite!
desisti de ter uma alimentacao saudável no Paraguai...

Dom Franleone

Fazer compras eh uma terapia: nesse ponto eu sou bem o esteriotipo da mulherzinha de bolsa cor de rosa, cilios longuissimos garantidos com um rimel novo sensacional e em cima do salto alto da minha mais nova aquisicao para a colecao de sandalias.
Mas fazer as primeiras compras DE SUPERMERCADO para MINHA casa, daquelas que nao incluem um vinho e frios para uma noite romantica, mas itens de cesta basica para a minha propria subsistencia mensal eh territorio virgem para mim. Ainda mais em solo estrangeiro. Me muni de coragem, fiz o sinal da cruz e segui para o Super (os paraguaios abreviam tudo, e nao por carinho, acho que eh preguica mesmo).
Entrei, peguei meu carrinho e segui empurrando-o gondola abaixo, dona de mim que sou. Minha mae olha pra mim e pede, cheia de candura:
- filha, pega um frango?
Primeira missao eh facil, nada de frutas que se deve chacoalhar e apertar para escolher. O frango vem congelado e desossado, eh soh escolher o mais carnudo. Fui feliz e competente, atras da Juliana Paes dos frangos. O problema eh que os frangos paraguaios devem ser mafiosos, pois a familia nao se separara nem na Hora da morte, amem. Toda a familia do frango estava presente. Divididos por genero, numero, grau, filo, ordem e familia (flashback para aula de biologia da setima serie) secao apos secao se afileiravam: frangos, galos, galinhas e, esse eh especial: o super frango. O super-frango nao tinha nenhum atributo especial dentro da familia. Nao tinha nem peito nem bunda siliconados. Resta entao presumir que este foi um heroi se interpondo entre a saraivada de balas e familia frango no dia da queima-de-arquivo do viveiro e, por isso, mereceu uma morte honrosa e uma ponta de gondola.
Nao me sentindo merecedora de tamanha atencao peguei um frango regular e fui para a gondola dos laticinios

O quintal da casa da gente

O nosso quintal nao eh necessariamente aquele lugar com piso de lajotas, canteiros onde se plantam flores que nao combinam entre si e anoes de jardim solitarios; onde o cachorro revira o lixo e se faz churrasco de fim de semana. Esse eu nunca tive, paulistana convicta que sou, que cresci feliz por estar numa grande metropole cheia de teatros e restaurantes que nunca vou e morar no nono andar de um predio, beeeem acima dos ladroes la embaixo.
Nao, o nosso quintal eh aquele espaco onde a gente se sente a vontade. Eh o nosso territorio, aonde a gente dirige e reconhece todos os buracos, desvia da senhora de mau humor do primeiro andar, sabe o caminho da padaria e o melhor dia para pegar o ultimo lancamento da locadora.
Fazer de um lugar novo o nosso quintal eh a parte mais dificil de qualquer adaptacao. E eh por isso que na minha primeira semana em solo paraguaio, trouxe minha mae a tira-colo. Mae, como Bombril, tem muitas utilidades, mas a melhor delas eh que mae eh um quintal movel, que como o Ab-shaper do 14-06 (canal de compra tambem das famosas facas Ginsu e meias Vivarina - e mais recentemente dos peitos auto-colantes ) se pode levar para qualquer lugar. Ela esta fazendo uma perigosa missao de reconhecimento esta semana. Ja mapeou as lavanderias e shoppings proximos, postos de venda de Toddynho (nao vivo sem) e postos de gasolina.
Mas ontem, como uma boa mae arabe ela me arrastou para o supermercado para abastecer a casa....